14 de janeiro de 2010

Criaram braços, esses que eram tão pequenos. E criaram pernas que se movem dentro do meu frio apartamento. Criaram corpos donos de si mesmos. Criaram olhos que me observam até mesmo a noite, na solidão do meu quarto com cheiro de fumaça verde mentolada. Fizeram-se em vontades, em ordens, em um regime nada democrático que me obriga a fazer tudo o que é pedido: mudar uma palavra aqui, outra ali, apagar parágrafos, reorganizar personagens, colocar um salto vermelho na Giovanna. Meus contos se contam por si e eu sou só um meio através do qual eles se mostram aos outros, exibidos!, porque embora tenham braços, pernas, corpos e olhos ainda não sabem falar e muito menos escrever. E que não aprendam, senão eles mesmos se farão e só sobrará a fumaça verde no meu quarto escuro.

(Fútil Bagagem, 2008)

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