16 de setembro de 2009

Eu - que cansei de traduzir sensações. Eu que tenho em mim a sinestesia. Agora transbordo, escorro, liquefaço-me. Que sou além do úmido vestígio no travesseiro? Eu que choro doído e doido. Eu gosto quando é o corpo quem responde as perguntas esperançosas dos olhos silenciosos, mas às vezes não fito outros olhos senão os meus - miúdos, castanhos e entristecidos. Me respondo corporalmente: caem os cristais que brotam das grutas amarronzadas e a coluna se curva esforçada.
Porque entristeço? Porque anoiteço e a noite é escuridão. Hoje não existem estrelas no céu. Foram apagadas? Quem, senhoras, teve a ousadia de me privar da beleza das estrelas? Estou sozinha e se sou capaz de me jorrar assim lasciva e decisivamente, digo que o esforço é tão maior quanto o das nuvens pesadas que colorem de negra camada densa a mais bela das telas.
Eu, que tenho febre e estou ardendo e estou doente, te escrevo porque preciso de uma válvula de escape. Uma válvula de escape na ponta dos dedos e me escapo de mim.
Te escrevo porque preciso de ouvidos. O mundo carece de pessoas que tem o dom de ouvir e eu sei que pronunciarás em voz alta todas as minhas palavras fugazes ainda que escritas na tentativa de terem permanência. Te escrevo sem intenções ou objetivos: te escrevo como consequência e não como causa. Eu estrondosa e brilhante no momento da explosão. Como se capta o momento exato em que se supõe explodindo depois de implodir? E como se capta o momento exato em que os destroços luminosos são passionalmente afastados de um centro imaginário? Eu - um centro imaginário de onde se afastam muitos pequenos pedaços brilhantes de mim. Eu que sou fragmentos. Ao menos assumo: sim, sou aos poucos, e te escrevo em doses homeopáticas desordenadas.