24 de outubro de 2009

Mais café, mais café, mais café porque ali o tempo escorria lentíssimo e, ansiosa, lembrou-se do momento quando tudo começara naquele parque numa sexta-feira chuvosa. Não era importante em qual parque havia acontecido – o importante era que chovia e o cheiro tinha cor verde musgo molhado e o som eram gotas cristalinas nas piscinas claras rodeadas por pilastras. Sentiu saudade. Tinha isso de sentir saudade de momentos. Uma fincada no peito, um leve arrepio. O importante mesmo era que havia acontecido e ela, como não se soubesse lidar com surpresas, mas como que já preparada, como se esperasse, como se sempre soubesse, como se, tão adivinhadora e certeira, tivesse conseguido pegar com as mãos pequenas alguma coisa que mudava dentro e fora. E tivesse conseguido tocar essa coisa diferente, mas já sabida, como se segura um passarinho por pouco tempo e depois quando a mão se abre e o pássaro sai cantarolando através das janelas você sabe que é para-nunca-mais. Tinha tocado essa coisa em metamorfose: sabia, quando percebeu, que tudo estaria diferente: estaria embaçado, como ousou dizer, e a partir de então.
E ainda isso: precisava pensar claramente. A sociedade não a aceitaria se não pensasse claramente. Pensamentos turvos, contornos embaçados, vozes modificadas e pessoas como fotografias pessoas como pinturas pessoas como paisagens.

23 de outubro de 2009

Como se fala sobre as coisas indizíveis?
É possível interpretar os mudos sons do silêncio?
E a noite, escuridão que se vê, quais segredos camufla entre os negros espaços intangíveis?