6 de janeiro de 2011

Sonhei outrora

que um rio fosses, principalmente em dias quentes
e se um rio fosses,
navegaria nos teus fundos,
nos mistérios,
na languidez das águas descontínuas

que um mar fosses, principalmente em dias de ressaca
e se fosses um mar,
me precipitaria sob tuas ondas,
depois afundaria nas serenas e agradáveis gotas do atlântico
sucumbiria as espumas e seria quase possível o afogar-me
num todo, em ti que és sobretudo matéria que envolve

que quebres os discursos, a oratória, o diálogo
que sejas o silêncio
e te ouviria em todos os ruídos ausentes
pedidos silenciosos da presença
e beijaria o vento em calma

que uma borboleta ou um piano tu eras
te coloria em mente e te tocava em toque
tudo era cor, som e tato quando sonhei outrora

quando sonhei outrora, num desses dias,
eras qualquer coisa em que eu pudesse ser
serena e eterna em nossos instantes