2 de maio de 2011

O mundo é uma eterna punhetagem num banheiro sujo. Mesmo reconhecendo toda a merda que há ao redor, tentamos fechar os olhos e encontrar prazer e beleza em algum lugar perdido dentro de nós. O problema está no fato de que não é possível passar uma vida inteira de olhos fechados. No fim, descobrimos toda a ilusão por trás das descobertas e o mundo ainda é feio e fede a mijo.

25 de abril de 2011

o mundo é lindo.

façamos, pois, uma festa
das coloridas e brilhantes
como as arestas do copo e do corpo
como os afagos dos últimos amantes

façamos, pois, uma bela entrada
de tapete vermelho, grandes enfeites
e taças de vinho tinto
como as oferecidas aos reis, aos papas

Andei doente por tempos
Louca, a ausência pairava
como pairam as gaivotas
por cima de minha cabeça

Sabia-me só no mundo desde criança
Mas não tão só como quando se está só
depois de ter estado junto,
 
estado em transe pleno conjunto.

hoje amanheço sã
hoje amanheço sem sombras
hoje simplesmente não irei anoitecer
 
(sei que meus olhos ficarão presos, assim como o resto)

Façamos, pois, uma grande e eloquente homenagem
que, no dado hipotético momento,
 
seja encrostada de murmúrios
envolvida de suspiros ansiosos, insaciáveis
e oferecido a um só par de ouvido.

Vamos curtir, então, a hora da entrega
como se curte a carne em sal grosso
E enquanto mudam os ponteiros,
possamos nos olvidar dos instantes,
 
intragáveis fugidios.

Que se faça rosa a sua volta
Que se faça céu o seu retorno
Preparo tua cama, lavo teus lençóis
e penso: Ah, como é boa a Vida!,

Que se tu soubesses como me sinto
ansiosa pela noite nessa manhã de neblina 
terias também esse tipo de loucura:
achar que é lindo o mundo

6 de janeiro de 2011

Sonhei outrora

que um rio fosses, principalmente em dias quentes
e se um rio fosses,
navegaria nos teus fundos,
nos mistérios,
na languidez das águas descontínuas

que um mar fosses, principalmente em dias de ressaca
e se fosses um mar,
me precipitaria sob tuas ondas,
depois afundaria nas serenas e agradáveis gotas do atlântico
sucumbiria as espumas e seria quase possível o afogar-me
num todo, em ti que és sobretudo matéria que envolve

que quebres os discursos, a oratória, o diálogo
que sejas o silêncio
e te ouviria em todos os ruídos ausentes
pedidos silenciosos da presença
e beijaria o vento em calma

que uma borboleta ou um piano tu eras
te coloria em mente e te tocava em toque
tudo era cor, som e tato quando sonhei outrora

quando sonhei outrora, num desses dias,
eras qualquer coisa em que eu pudesse ser
serena e eterna em nossos instantes