16 de dezembro de 2010

sobre o passado dizem apenas: passou

Vivem esperando os sinais. Se não de Deus para o futuro, anúncios e recados de meninos ausentes, moças doentes de amor, esquecidos vales negros por onde entraram as mãos e os membros. Porque as bocetas não mandam recados? Mandam recados as nuances, as tolas apaixonadas, as esquecidas bonequinhas de outrora . Todos sentem o ressoar dos sinos dos mortos voltando ao presente. Ah, os mortos... e nós, para quantos já morremos, se os outros morrem a todo instante?

Às vezes é possível sentir os cheiros mal resolvidos, mas ninguém comenta
os velhos apegos desesperados, mas ninguém divide a ardência (só com a noite)
o rasgar-se todo etc
passam de raspão colados a pele
os lapsos de recordação e desordem quando anunciam presença
ou quando anuncia apenas a memória, sem concretude no outro – ah, demência!
mas calam-se,
sobre o passado dizem apenas: passou
e colocam mais outras xícaras de um novo café
quando amanhece