24 de julho de 2009

esses remedinhos e

começo a sentir. Merda. E eu que pensava que isso demoraria a vir. Assim, de novo, dessa forma esdrúxula e friorenta. por vezes, pensei que eu tivesse conseguido Enterrar O Passado, como se tudo não fosse menos que uma fumaça distante, uma terra onde eu nunca mais colocaria os pés. ah, esses pensamentos tolos.. a verdade é que começo a sentir esse frio, esse vento, essa brisa de beijo gelado na pele. não vê que isso tudo é você? tudo isso me faz ficar aqui parada olhando essa mobília, e naquele dia tinha toalha de mesa bonita, tinha cortina nova, vinho antigo que eu havia guardado por tanto tempo, tinha uma luz avermelhada, tinham nossas taças na mesa coberta, música, música, música para preencher os nossos silêncios, e ventava tanto, porque era inverno e costumava ventar quando deixávamos as janelas abertas então íamos pra varanda olhar a vista daqui de cima, do décimo andar, nós duas ali olhando a vida passando daquele pessoal lá embaixo, aquele vento que tocava na sua pele e na minha, tudo isso é você. foi com o drama que chegaste pra mim naquelas noites frias que me fez assim presa prisioneira, e é aqui que eu estou agora, na mesma casa que antes era tão colorida, exatamente nos mesmos lugares eu deixei os móveis, você acredita?
ó, eu to te falando, acredita, meu corpo já dá sinais de fraqueza, meu corpo sente perfeitamente tua ausência, mesmo que eu tente enganar a mente e o coração, mesmo que eu acorde, continue fazendo o café, torrando o pão com manteiga e sentando na mesa pra ler o jornal e conversar sozinha, ouvir uma música, de repente sair de casa. mesmo que eu enfrente essas coisas que parecem bobas... não importa, não as quero mais como rotina, eu te digo que não me acostumo e pronto. tudo parece estranho por aqui e, mesmo que eu me engane, enfrentando os dias corajosamente, que é o que venho fazendo nesses últimos longos meses, mesmo que eu me engane uma hora ou outra meu corpo joga na cara o frio e a solidão dessa casa que agora me é
quase irreconhecível. aí fico imóvel, deixo o processo de Me Acostumar À Ausência E Encarar A Vida de lado e a única coisa que encaro são os meus dedos parados ainda sob uma manchete qualquer que nem sei do que se trata, e depois os olhos varrem as sujeiras embaixo da mesa, as teias nos cantos dos teto, de novo o dedo sob o jornal, as unhas todas roídas e descascadas e começo a falar com voce, onde quer que voce esteja. hein, gabrielle, como voce está hoje? faz frio? é melhor voce se agasalhar. lembra aquela vez em que estavamos em sao paulo? fazia um frio danado e voce ficou com aquela rinite alergica que você sempre teve. ah, gabrielle, espero que onde quer que você esteja, ainda tenha contigo um pouco da chama do que fomos, eu estou ficando doente de esperar, eu sei que não devo esperar nada, eu sei que isso já faz tanto tempo, mas se ainda houver em você algum vestígio de mim pelo travesseiro, pelas dúvidas, pelo sorriso esboçado quando você encontra algum vinil dos beatles e inevitavelmente pensa em tudo isso, ah, se ainda houver essas coisas assim com você, por mim fica tudo bem. eu continuo Tentanto Encarar A Realidade por mais tempo, até que essa mentira toda se torne uma grande verdade e eu consiga viver de novo como era antes de ter tudo o que tivemos. eu me contento assim, quando faço do ambiente o mesmo ambiente que era antes, é só eu fechar os olhos, gabrielle, que eu enxergo tudo de novo, que eu me lembro dos sons, das cores, dos cheiros - e eram tantos cheiros que às vezes me perco e confundo, mas a mistura ainda assim é boa e me traz uma lembrança que, ah, gabrielle, se você soubesse. Depois tudo passa, essa angústia toda, o inverno vai embora e eu sou, sim, como você sempre dizia, uma mulher corajosa; e não vai me faltar coragem dessa vez, eu vou seguir em frente, gabrielle, querendo ou não, eu vou seguir em frente porque eu devo isso a você, eu devo me manter aqui para que você não se preocupe,
eu estou muito doente, mas eu vou ficar bem, tudo ficará bem em breve, gabrielle,
não teremos mais problemas,
são só esses remedinhos e

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