30 de julho de 2009

descoincidências

Antes era a expectativa, o despertar do reconhecimento do outro, dos olhos do outro, do cheiro do outro, da pele do outro. Antes a espera alegre e calma, as horas que eram minutos, o café que nunca demorava porque existiam preenchimentos, conversas, gargalhadas, filmes preferidos e pão de queijo. Às vezes cerveja, vodka, rum e drinks, principalmente sex on the beach. Brincavam com nomes, faziam paródias. Teatralmente interpretavam seus personagens preferidos num grande palco que era o quarto não muito iluminado.
Agora o ônibus demora a chegar porque os afazeres são mais importantes. Agora eles ficam dois, três, quatro minutos no silêncio antes que engatem de novo em assuntos corriqueiros. Constrangidos, ambos. Os dois não sabem onde aquilo tudo foi parar, não sabem se eram falsas as coincidências, se os olhos brilhavam meio fosca e toscamente; não sabem em que momento se perdeu a cumplicidade, a vontade, a doce comparação entre os poemas escolhidos do Pessoa. Agora os dois voltam pra casa com a certeza de que não haverá próximo encontro e a angústia permanente: como se perde assim a empatia e o desejo?

3 comentários:

Gil Rodrigues disse...

O destino às vezes esquece de reforçar as cores de um quadro e a obra por fim, termina opaca.

Can disse, Hi, Nara?! disse...

Talvez não seja a paixão que dizem que um dia acaba?

Cartazdacultura disse...

mto de bom tom o "descoincidencias"
adorei,sao coisas que acontecem direto mesmo.
vc se baseou em que?vc leu ou viu em algum lugar sobre isto?