16 de fevereiro de 2010

Para Giul Jr e nossas viagens


Sim, foi o que dissemos na última viagem: somos caixas de pandora e nossos segredos devastariam as civilizações. bombas atômicas? epidemias? meteoros? sempre cabem demônios e os piores pesadelos do mundo no fundo falso da aparente silenciosa carcaça. Vejo isso agora pelo espelho, tentando enxergar guela adentro alguma coisa que esteja prestes a sair, a boca arreganhada como se uma mordaça estivesse prestes a puxa-la por completo - talvez seja por isso a tosse constante e os pigarros sempre pela manhã. quantos gritos escondidos ou colados mesmo a madeira? ao cristal? ao gesso? de que são feitas nossas paredes? quantos gritos abafados por costuras e pontos de lã para que ficasse quente por dentro e a voz virasse água e fosse mandada embora pela pele como suor. Toda aquela pele molhada é como um corpo amordaçado tentando dizer alguma coisa, você não vê? Estamos amordaçados embora nossos lábios ainda se movam. Estamos no silencio ainda que dentro esteja um alvoroço quase carnavalesco. Ah, essas revoluções...lembro que passeávamos pelas ruas recém descobertas e perto daquela praça onde não paramos e daquele bar onde não bebemos, havia uma construção e algo parecido com uma caixa gigante, foi o que falamos, você lembra? Exatamente assim: uma caixa gigante de madeira. Somos tão sonhadores. E você disse que era como aquela caixa e disso nunca esqueço. Não estávamos sozinhos nesse dia, havia mais duas pessoas com os pés calmos duvidosos e quando você disse sou essa caixa e eu olhei e sorri e pensei que sou quase isso mesmo, ninguém nos entendeu, meu amor. Você percebeu isso? Quase ninguém nos entende. Você seguiu dizendo que, quando se abrisse (e não sabia por qual motivo se abriria e nem com o quê seria feita essa abertura), seria como uma explosão. Porque você é fogo, eu pensei, orgulhosa. E eu disse que a minha caixa tinha um buraco já, que eu estava vazando pela parede ou pelos poros aos poucos e que depois fluiria todo o resto e os mistérios se revelariam. Porque sou ar, meu pequeno. E não importando o elemento, somos vivos e temos muito o que mostrar por aí. Segredos quase ininteligíveis, meu amor., e temos que arcar com todas as consequências de se viver a flor da pele e a mercê dos sentidos. Você vê? Você sente isso?

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