9 de fevereiro de 2010

Diz no jornal que amanhã vai chover a tarde. Talvez eu aguente essa chuva, eu penso, agora meio sem querer pensar em nada, só em voltar ao momento exato em que entrei em casa hoje e desistir de tudo o que fiz ou de nada que fiz para dormir um pouco; talvez ela me limpe mesmo, afaste essa loucura, esse desespero, essa insônia.
Talvez a chuva me acalme amanhã, que é hoje, talvez se alguém estiver me ouvindo eu possa ficar mais calma também, companhias sempre acalmam e afastam os medos, ainda que em silêncio, talvez eu tome um leite quente e consiga alguns minutos com os meus olhos fechados. Pobres olhos intensos que querem devorar tudo o que vêem, pobres olhos famintos que não descansam há horas. Pobre de mim, que ainda não juntei os quebra-cabeças da minha mente e já é tarde, ou cedo?, e eu preciso me retirar desse quarto que me prende de olhos abertos. Preciso me retirar de mim ante que o dia comece sempre corrido.
Já estou atrasada. O café, os cigarros, as duas aplicações de corretivo embaixo dos olhos e estou pronta. As pálpebras pesarão por horas e infelizmente um dia de calor. Pancadas de chuva ao entardecer, eu li no jornal. Talvez eu aguente, então. Quero que chova, quero sentir as roupas como fardos nos ombros fatigados e chegar aqui outra vez, amanhã ou hoje quando voltar a anoitecer, e aí sim, me retirar e poder dormir um pouco. Afinal, loucos, desesperados e insones também precisam de sonhos.

(Escritos de Março)

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