10 de agosto de 2009

Eu chorava muito enquanto te olhava.

Eu chorava muito, eu chorava muito enquanto te olhava.
Conversávamos esperando que alguém te chamasse, sorridentes, as duas; era um ensaio, eu acho, ou algum teste que você iria fazer e eu tinha te chamado. A Vanessa, produtora, havia me ligado na noite anterior e perguntado se eu conhecia alguém assim assim assado para uma personagem do novo filme de não sei quem. Preciso que tenha olhos expressivos. Brilho, luz, que seja assim uma mulher misteriosa. O resto você já sabe: eu te liguei mesmo, deviam ser umas onze horas da noite, eu te liguei, você disse sim e nós estávamos num set de filmagens já, tantas câmeras e luzes e um cenário meio surrealista e eu estava ali com você e era real, ou pelo menos parecia, porque eu só conseguia pensar que era real, que eu te contava coisas absurdas e que você tocava meu braço e eu sentia muito esse toque embora fosse leve e de pouca duração.
Eu te olhava e queria olhar para tudo o que estava acontecendo lá fora tambem, Porque no meu mundo tudo parava, eu queria olhar lá pra fora pra sentir que ainda tinha controle, que eu ainda fazia parte de um mundo onde as coisas acontecem, e nao onde um segundo fica materializado e repetido ininterruptamente enquanto.
Mas conversávamos. Agora já não lembro sobre o quê, mas sei que conversávamos e que você me sorria, que os seus olhos me sorriam e que parecíamos nos entender tão bem, eu pensei, ah, se tivéssemos uma chance de sei lá esquecer a razão de tudo mas não temos - nunca temos. 'There are no chances, there are no changes. Pay attention to the dangerous: the big monster insanity....' mas numa melodia Calma. Parecíamos mesmo nos entender e nos abraçamos e foi aí que eu chorei muito, chorei muito quando te olhei, logo que meus braços destravaram dos seus e tinha ainda na boca um gosto salgado de ombro, e era o seu ombro e me parecia real demais, tão recém tocado ali, aqueles segundos sendo quase dias, e eu te olhei e, como num susto, como num surto de verdades, eu confesso: eu chorei muito porque é injusto a vida não dar chances. Era esse o pensamento inicial.
E chorei muito por vários motivos depois, quando me dei conta de que a vida dá, sim, muitas chances e talvez eu que não tenha enxergado as chances da vida e que agora as coisas não passam de reminescências esfregadas assim nos meus olhos depois de nos abraçarmos e conversarmos e nos entendermos, mesmo que eu não lembre sequer uma palavra do que falamos; talvez eu tenha até dito que teus dedos enlaçarão outros dedos e tu desabrocharás para a madrugada, talvez você tenha respondido de um jeito doce e ao mesmo tempo distante. Talvez.
Mas eu chorei muito porque eu estava ali, porque eu te olhava, porque seus olhares são abraços tão fortes que doem de um jeito que amo pois amo tudo o que me fere. Então eu me sentia assim como um por-do-sol que vi um dia, um dos mais lindos, quando ele se envermelhava choroso; depois do vermelho, meio roxo, meio rosa fluorescente e flamejante, e as nuvens escondiam o choro do sol, todas de faces escuras ao redor, e as minhas lagrimas vermelhas transbordando coração; então eu chorava muito, muito, muito, eu chorava muito enquanto te olhava. Acordei e os meus olhos fundos e a maquiagem borrada e tudo ainda parecia real como se vivido na noite passada. Tudo em mim: o sonho, o choro, os olhos. Recém tocados.

Nenhum comentário: