16 de junho de 2009

bêbada de mim

Preciso definir isso em mim; deixar o pensamento claro como os meus fios de cabelos na janela coloridos pela lua. Preciso porque isso não é apenas um limite. Não é nem um pouco limitação. Preciso saber se meus olhos agora podem ser rotulados de seus. A quem ou a que pertencem meus olhos quando se fecham? Abertos são escravos do que vejo: súditos, empregados. E fechados, de quem são? Por onde vagueia a visão escondida entre os cílios? Em você que se emaranham? Emaranhados de visões, sonhos, lembranças, quase vivências que inventei e agora não posso dizer com certeza se foi ou não foi, se realmente aconteceram. Aconteceram sim porque tudo o que me alcança existe, inclusive aqueles segredos meus que ninguém desconfiaria, inclusive o sorriso dos outros que observo calorosamente. São meus porque os enfeito. E os meus olhos? Saberás enfeitar os meus olhos? Suponho que sim e, dessa suposição, nasce a pura idéia.

Precisamos só esclarecer esse ponto, mesmo que eu seja a dona da noite, da lua, da janela entre-aberta coberta em partes pela cortina de seda. Tenho fome. Tenho sede. Tenho fome e sede de vida. Alguém me explica o sentido? Será que sei mesmo alguma coisa sobre o mundo? Será que sei expressar o que me passa? Porque ninguém nunca soube. Vivo dizendo isso: que quero me expressar. Consigo? Duvido muito. Me fecho todos os dias. Me expresso a meia noite, a meia luz, a meia xícara de café morno. Me exponho para mim, Quanta movimentação! Quantos carros e motores e fumaças nessas grandes avenidas e eu expondo-me como narciso para o espelho.

Porque a liberdade não é também um conceito que crio para justificar todas as minhas ações? Respiro porque sou livre. Faço compras porque sou livre. Vivo trancafiada nesse quarto porque sou livre, porque quero isso, porque abdico de sair na rua às vezes quando não tenho vontade: escolho. Escolhas... e em que mais se baseia a trajetória da vida a não ser em escolhas? Escolho dividir isso contigo, a minha liberdade. Sei que você a preza tanto quanto eu, sei que somos livres por instinto e quem tentar colocar rédeas não ganhará muitos frutos, sabemos.

Mas no instante de agora, no já, nesse momento de transição que vivo, nesse exato segundo – que passa, que não é mais, que se transfigura num outro seguido e ininterrupto: nesse exato momento em que te falo-, é o que quero: os laços. As pequenas amarras. Mesmo que amanhã não exista nada, nem sequer cheiros e dívidas: que tudo entre nós esteja quitado. Dane-se isso se hoje quero beijar-te a boca tantas vezes. A Pura idéia.

Bêbada de mim. Um brinde! Façamos, pois, um brinde a minha humilde pessoa.

Um comentário:

Gil Rodrigues disse...

O sentido não tem direção nem nome. O sentido é o sentimento vivido. E a liberdade é uma algema invisível que pomos em nós para que possamos nos justificar. E que nesse brinde possa ser lembrado que todos precisamos mais dos outros que de nós mesmos.