13 de dezembro de 2009

Para além ou Aos Silenciosos



Sobre serem dois seres, ninguém dizia nada. Acreditavam. Ou melhor: Viam com seus próprios olhos. Sabiam todos que eram dois pois se movimentavam distintos pelas ruas trocadas: talvez metades de um mesmo círculo divididas há tempos, em outras vidas, quando ainda eram apenas a idéia do que poderiam ser, mas agora arco, raio, não diâmetro. Eram dois e todos sabiam, pois se eram delimitados e possuíam inclusive fronteiras - que ultrapassavam para sentir que era possível ultrapassar os medos; eram dois, sim, mas confundiam-se tanto por vezes que a mistura era quase homogênea. Etéreos, os dois, atemporais. Momentâneos? Como se o momento fosse tudo - E não é? Um deles dizia, e outro fechava os olhos pensando: encontrei. ou: é isso o que eu quero ou: como pode existir pessoas ligadas dessa forma? eu aqui depois de tanta procura, você depois de tanta espera, nem acreditava mais que alguém fosse chegar e te pegar assim dessa forma, desse jeito, pegar inclusive todas as suas horas e povoá-las de pedaços de mim ainda quando estou longe, e quando eu estou perto de você, eu, você, nós dois e tudo o que criamos te consumindo e a mim também, sabe que também me consome quando. Por um quê a mais, se tornariam um. E sem formas, não mais círculos estrelas corações. Por um traço, um fio, um deslize - pois não era perigo serem um só?, sempre a beira daquilo que não nomeariam - todos também sabiam que, em breve, se os dois ousassem... e confundiriam-se eles próprios em busca de um eu já perdido, um eu do passado e agora o eu presente tão acrescido de significado, de magia, de amor leve e peso de corpo também leve, um mesmo, um outro, dois de um só.
E olharam-se em silêncio. Sorriram depois, envergonhados de serem tão antigos, tão românticos, tão tão tão bregas e ridículos. Então prometeram, sob a lua cheia, um moreno e o outro tão claro, prometeram o amor eterno e ousaram.

Nenhum comentário: